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A MALDIÇÃO DO CASSINO DO AHU - Parte I



Já se vão longe os anos dourados do Cassino do Ahú, que sempre será a melhor casa noturna de Curitiba de todos os tempos. 
O Cassino Ahú nos tempos em que reunia a sociedade curitibana |

Os grandes artistas nacionais e internacionais da época, a melhor cozinha, o maior luxo, tudo embalado ao som da roleta e das cartas jogadas por habilidosos croupiers.


Mas, e a fortuna deixada por seu proprietário, Antonio Serrato? 

Prédios, terrenos, casas, mansões...tudo deveria ter feito a felicidade de seus herdeirosdesde o passamento do patriarca, em 1976.

Ledo engano. 
Antonio Serrato deixou o prédio do cassino para um colégio particular que ainda funciona, deu uma chácara para a ama de seus filhos , doou dois importantes terrenos no Portão para o Orfanato onde adotou Marcos e Antonio Maria, os quais tinham poucos anos quando viraram orfãos do rico pai adotivo.

Para os meninos, deixou dois enormes prédios de apartamentos (Marechal Deodoro e Alameda Prudente de Morais), a casa da família no Batel (Rua Buenos Aires) , cinco sobrados atrás do shopping Mueller (Rua Inacio Lustosa esquina com rua Duque de Caxias) ,uma casa perto do cemitério municipal (Rua Domingos Nascimento) , um importante terreno na Sete de setembro, quase Batel.

Esse importante patrimonio, hoje avaliado em mais de 30 milhões de reais, seria suficiente para manter uma vida de conforto aos dois herdeiros e seus descendentes por toda a eternidade.

Infelizmente, a maldição do Cassino do Ahú falou mais forte, e mostra , além de um certo kharma advindo de patrimonio de lucros de jogatina, a insegurança jurídica brasileira e as enormes lacunas da lei processual civil, que servem muito bem aos mal intencionados, posto que convenientemente separada da legislação penal em comportas estanques e praticamente incomunicáveis.

Tudo isso aliado a uma absurda impunidade, vistas grossas, insensibilidade e desinteresse de todos os que deveriam velar pelo ordenamento jurídico paranaense.

Usufruindo só imóveis e seus alugueres, os dois herdeiros atingiram a maioridade vivendo folgadamente, sem trabalho ou estudo, como verdadeiros playboys por toda a década de oitenta.

Eis que os planos econômicos governamentais, a inflação galopante e as deficiências na antiga lei do inquilinato (e claro, uma brutal carência de assistência jurídica séria aos herdeiros) foram rapidamente engolindo os valores dos alugueres dos imoveis, terminando por quase nada mais a dupla receber.


DA TRAGEDIA DAS VIDAS

Em desespero, o jovem MARCOS faz um gesto tresloucado, colocando uma grande faixa de “vendo, faço qualquer negócio” em frente a casa da família Serrato na rua Buenos Ayres.

Isso atriu a atenção de um não tão jovem médico Peracchi e seu irmão, este morando em um simples dois quartos alugado na Avenida do Batel, que infelizmente dava “vista” justamente para a faixa.

Em suma, usando do odioso 12 Tabelionato de Notas de Curitiba antes da interdição, com algumas duzias de procurações, contratos de locação falsos de 50 (cinquenta) anos, escrituras e declarações falsas em nome dos herdeiros e suas esposas, sem gastar quase nada os médicos açambarcaram a posse deTODO o espólio, jogando os irmãos na miséria.

MARCOS abandonou a esposa ROSELIS em São José dos Pinhais, ANTONIO MARIA adquiriu, pela tristeza de ter ficado na miséria e ter sido enganado, um câncer nos testículos que o matou em poucos meses em 1998, não sem antes tersido, quase agonizante, “casado” no hospital em situação ainda passível de investigação.

Os filhos da dupla cresceram na pobreza, na miséria, na falta de estudos , na fome, na falta de roupas e oportunidades, e seus netos pelo mesmo caminho do infortúnio, da periferia, dos dentes cariados e da tiritação de frio no inverno.

À dupla de médicos Peracchi e suas esposas e herdeiros , toda a riqueza do mundo, viagens maravilhosas, lanchas marítimas, empresas de tecnologia de ponta, carros e apartamentos de luxo, com a estupenda renda proporcionada pelos imóveis, tudo ao engodo do fisco e de qualquer autoridade policial ou fazendária.

É claro que os médicos não fizeram toda a tramoia sozinhos, contando com muitos advogados, laranjas, cartorários e juramentados sem nenhum sendo de moral ou ética, mas que se mostram indignados quando acusados de atos perversos e ilícitos.

É claro também que os herdeiros tentaram lutar, mas estranhamente seus processos caiam na extinção, no arquivamento, no aparecimento de “acordos” homologados rapidamente e sem conhecimento dos mesmos, na miséria e sem
condições de manter embates jurídicos de força, em quase TODAS as varas cíveis de Curitiba..

Diversas denúncias de um ou outro advogado mais abnegado encontraram sempre ouvidos moucos por parte da prestação jurisdicional, o mesmo se falando do Ministério Publico.
Passados vinte anos, a roda de Sansara deu mais uma volta, com a condenação de um dos médicos por crime sexual contra menor (e não pelos hediondos atos usurpatórios).

Mesmo modo, a luta dos herdeiros Serrato, sempre na extrema pobreza e todos convenientemente separados, esbarra ainda hoje na insensibilidade, indiferença e despreparo judiciários, com sentenças de extinção em que o magistrado diz textualmente que “não entendeu” a situação; que a “parte está inventando histórias”, exigências absurdas de comprovação de necessidade de justiça gratuita (?) ou qualquer pontinha em que se possa dar mais valor ás escabrosas historietas dos usurpadores e suas dezenas de documentos “preparados para cada ocasião” do que um efetivo enfrentamento da escabrosa questão.

Pelo visto, a maldição do cassino do Ahú, certamente lançada por quem perdeu dinheiro para a casa há mais de cinquenta anos, ainda vai durar muito tempo até todos os envolvidos enfrentarem processos criminais sérios para o resgate de seus atos.

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